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Pesquisadores da UFV criam cobertura de papel reciclado para ajudar a reduzir danos ambientais e aumentar a produção de hortaliças


Pesquisadores desenvolvem técnica agroecológica para produção de hortaliças — Foto: Universidade Federal de Viçosa/Divulgação
Cultivo de hortaliças usando cobertura com papel reciclado

A técnica substitui o plástico de cobertura de canteiros por papel reciclado, evitando o uso de agrotóxicos para combater plantas daninhas.


Pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV) desenvolveram uma técnica que pode ajudar a reduzir danos ambientais e aumentar a produtividade da produção de hortaliças. A técnica substitui o plástico de cobertura de canteiros por papel reciclado.

 

Além do papel ser biodegradável, ele protege o solo do superaquecimento por economizar água e evita agrotóxicos para combater plantas daninhas. Veja os detalhes da pesquisa e os resultados alcançados.

 

Pesquisa


O trabalho é desenvolvido por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia da UFV e os experimentos foram conduzidos com alface, repolho e cebolinha, apresentando resultados favoráveis.

 

A pesquisa é coordenada pelo professor Francisco Freitas, do Departamento de Agronomia. Ele esclarece que, quando se planta um canteiro de hortaliça, o produtor precisa capinar ou aplicar herbicidas para controlar as plantas daninhas que crescem junto com as hortaliças. A capina é trabalhosa e os agroquímicos são indesejáveis, sobretudo para produtos que são consumidos frescos e crus.

Por isso, os produtores costumam forrar o canteiro com filmes de polietileno, um plástico branco ou preto com furos por onde as mudar vão crescer, impedindo assim o desenvolvimento das plantas daninhas que competem pelos nutrientes, luz e água, prejudicando a produtividade.

 

"O uso do papel reciclado para a cobertura resolve muitos destes problemas com vantagens econômicas e ambientais. Quando se usa o forro de polietileno, as hortaliças são irrigadas por um sistema de gotejamento, ou seja, as mangueiras com orifícios ficam abaixo da cobertura plástica molhando o solo cultivado com quantidade controlada de água. O problema é que o plástico, sobretudo o preto, altera a temperatura do solo estressando as plantas e comprometendo o desenvolvimento. O solo mais quente também aumenta o consumo de água. Sem cobertura é ainda pior, porque o aquecimento do solo, exposto ao sol e ao vento, aumenta a perda de água pela evaporação e eleva de 20 a 50 % o consumo de água. A cobertura de papel, segundo os pesquisadores, reduz este aquecimento em relação ao plástico", explicou Francisco.

 



Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores montaram experimentos comparativos cultivando, em uma mesma área, canteiros de alface com e sem capina, com plástico preto e com o papel reciclado. Fizeram o mesmo com outras culturas e colocaram, em todos, sensores de temperatura no solo.


Confira os resultados:


No verão, quando o calor já é intenso e agride as plantas, a variação de temperatura do solo abaixo do plástico preto chegou a ser até 8 ºC maior que no canteiro que usou papel. Sem cobertura, a elevação da temperatura foi de até 3 ºC em relação ao solo coberto com papel.

 

O experimento também revelou que a alface cultivada com papel reciclado tinha o dobro do peso do cultivado sem capina e 30 % mais que o cultivado sobre o plástico.

 

No que diz respeito à economia no uso de água, Francisco explica que para produzir um quilo de alface sem capina, o produtor gasta 43 litros de água. Com capina, 28 litros, com plástico 21 litros e com papel reciclado, apenas 18 litros. “Isso mostra que, se o problema do produtor for disponibilidade de água, como é muito comum acontecer, ele poderá ampliar em quase 40% a área de produção gastando a mesma quantia de água, se usar o papel reciclado”, conta.

 

Em uma mesma área, o volume de água economizado durante um mês, ou seja, o ciclo que vai do plantio à colheita da alface, seria suficiente para abastecer aproximadamente 25 famílias com quatro pessoas, levando-se em conta os parâmetros ideais preconizados pela Organização das Nações Unidades (ONU). “Essa economia é ainda mais importante em regiões como o semiárido onde a olericultura [cultivo de legumes] é forte e a disponibilidade de água é menor”, resumiu o professor.


Resistência do papel reciclado


Para que papel não rasgue com a umidade da irrigações ou até mesmo com as chuvas, os pesquisadores testaram diversos tipos e concluíram que o ideal é um papel semelhante ao usado nas embalagens de cimento.

 

Por ser resistente ao rasgo, esse tipo de papel pode ser usado para uma safra de alface e repolho e para até dois cortes de cebolinha, o primeiro aos 60 dias e mais uma rebrota 30 dias após.

 

Sustentabilidade


Segundo o coordenador, a equipe quer quantificar a economia ambiental de se evitar o plástico na cobertura das hortaliças. A legislação determina que os produtores precisam recolher ou reciclar o plástico usado nas coberturas, mas, segundo os pesquisadores, na prática muitos apenas revolvem o plástico junto com o solo.

“Ao contrário do plástico, o papel é biodegradável e, no caso da nossa pesquisa, nós já usamos papel reciclado, gerando uma economia importante para o meio ambiente”, lembrou o professor da UFV.


Produção de hortaliças no Brasil


A agricultura familiar é responsável por grande parte da produção de hortaliças no Brasil. Para chegar à mesa do consumidor fresquinha e saudável, hortaliças como couve, alface, repolho e temperos gastam uma enormidade de água, demandam defensivos químicos que são caros e poluentes, e nem sempre dão lucros favoráveis a quem produz.



Os resultados estão prontos para serem mostrados aos produtores rurais, mas a pandemia dificultou o trabalho de extensão desta técnica. “Acreditamos que a economia de água e de herbicidas seja importante para os agricultores familiares que vivem da olericultura, para as regiões produtoras e para o meio ambiente”, concluiu o pesquisador.

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